Tem um padrão de comportamento, gravíssimo, que eu insistia em repetir: diminuir para caber. Eu era incapaz de ver a minha grandeza como qualidade e vivia me machucando ao encurvar as costas para (sobre)viver em espaços menores. Fazia um esforço danado para me adequar; me calava para não parecer, de jeito nenhum, que conhecimento é sinônimo de soberba; sorria sem achar a menor graça; e, a pior de todas, para mim, que era implorar por atenção. Vamos combinar de acender um sinal de alerta toda vez que a gente precisar implorar, repetidamente, por resposta? Combinado.
Alguma coisa, claro, me fazia ter vontade de pertencer a qualquer custo. Está aí, aliás, um dos tópicos mais sensíveis da minha análise e, acredito que, a de qualquer um que se dispõe a pensar sobre o que nos faz aceitar tantas coisas ruins que nós aceitamos em troca de “estar”. Sei que nesse jogo emocional o que mais se perde é a identidade e o brilho, mas em contrapartida ganha tristeza (dá para ganhar tristeza?) com facilidade, porque nada é tão desanimador quanto encenar em troca de carinho, atenção, acolhimento.
Perdi as contas de quantas vezes eu repeti esse caminho solitário em busca de atenção, querendo a minha turma, me iludindo sobre ser feliz a partir do outro. Falando nisso, o que é a felicidade então, além de uma sensação única e subjetiva de quem se conhece de verdade? Mesmo sabendo que o processo de autoconhecimento é doloroso. Nessa semana, inclusive, fui embora da análise com uma constatação difícil demais de digerir e a voz da minha psicanalista dizendo que a vontade de pertencer custou a minha saúde. Como a gente lida com as consequências e, principalmente, com a consciência das nossas atitudes é assunto para outro texto, mas hoje eu gosto dessas respostas que eu não posso dar, como qual o sentido da felicidade, por exemplo, porque são elaborações exclusivamente minhas - assim como eu imagino que todo mundo tem as suas.
A gente se sente uma borboleta saindo do casulo quando percebe que amar genuinamente só é possível quando a gente olha para dentro com carinho. A essa altura do campeonato eu já sei que eu, Luanda, não me amo o tempo inteiro, mas me olho com cuidado o tempo inteiro. Esse foi o meu pulo do gato, compreender que não existe estabilidade na vida de quem preza por movimento, que somos feitos de meios-termos. Aprendi que mudar de ideia é quase como a relação da musculação com a longevidade, fortalece. E que o volante da minha vida não estava à disposição para revezamento; eu estou no controle porque assim como a sabedoria, nenhuma transformação começa a partir dos acertos, mas da vontade de não querer repetir os erros.
Quando borboleta, de cor hipnotizante, já tive vergonha por saber voar e, principalmente, por saber me retirar de lugares que me apertavam. Lugares e relações. É impressionante como a gente sente culpa até quando desperta porque a insegurança do outro disfarçada de moral nos impede de realizar. Sem ele ou longe dele. Borboletas de cores hipnotizantes não precisam de permissão, como também não devem nada por buscar outros lugares para pousar. Inclusive em pontos isolados.
Eu sei que querer pertencer é da natureza de quem, vira e mexe, lembra de estar sentada sozinha em meio ao pátio cheio de crianças na hora do recreio. Mas hoje eu me comporto de acordo com o meu tamanho. Até o próximo tropeço, porque, sim, ele vai acontecer. A diferença é que comigo eu nunca estou sozinha.
nunca estar sozinha quando se aprecia a própria companhia é tão bonito, né? que texto lindo, foi como um abraço. você sempre escreve com o coração e dá pra sentir. é quase ilógico enquanto menina preta entender que a gente precisa de si quando tudo que nos ensinam é sobre a existência do outro. fico feliz que nessa sua jornada de se reconhecer a gente ganha em amor e poesia.
“não me amo o tempo inteiro, mas me olho com cuidado o tempo inteiro.” 🤍