Carta para minha avó
Parafraseando, no singular, o título do livro de Djamila Ribeiro que tanto me emociona
Ô vó, eu te amo.
Olha só, fui pra Brasília tomar café da manhã com a Ministra da Cultura. Sim, a Margareth Menezes. A mesma que canta “eu falei faraó, ó.” Você não é faraó mas é farol para mim. Sempre foi e sempre será. No presente, segue sendo. A cada passo que dou, não dou sem pensar: “eu sou o orgulho da minha avó”. A mesma que voltava do trabalho, no ônibus, do centro da cidade (como se dizia) até em casa com um piano embaixo dos braços. Lembra quando você me deu aquele piano, vó? Eu lembro. Assim como eu lembro das aulas de pintura que fizemos juntas: você arrasando, como sempre, com o seu dom artístico; e eu chorando com vergonha de chegar na próxima aula e ter que pedir para o professor refazer o meu quadro.
Aprendi naquelas aulas, e ao longo da vida, que você era o meu exemplo. Você é! E se hoje eu amo falar é porque você me ensinou, falando, que ter arte no coração é tempestade. Ventania. Transformar o que tem no peito em amor. Minhas palavras escritas são amor. Todas elas são você. Que sorte a minha; a nossa: minha, sua e de quem nos lê. Afinal, quem me lê também lê um pouco de você e lê muito sobre batalha. Olha que coisa linda o que você construiu, vó. O que estamos construindo.
Quando falo sobre ancestralidade, eu falo sobre você. Falo sobre orgulho. E não tem nada mais bonito e genuíno do que se orgulhar. De onde a gente vem, de onde a gente está e para onde a gente vai. “É, né, fia?”, você me diria se eu te falasse sobre esse texto. E talvez você nem saiba, mas eu sou porque nós somos. Somos a família Vieira, “agora com a menina, né?”, a Stephanie, que você sempre diz sem dizer, mas você sente. Sente tanto. Sente muito. E eu também. Sinto tanto, sinto muito. Muito amor. Por você e por quem me apoia. Aliás, vamos pensar sobre se apoiar?
Eu me apoio nas minhas ideias, nas suas palavras, no desejo de quem vem. Tudo isso sou eu porque você me ensinou a ser assim. Muito antes de existir palavra para “se colocar no lugar do outro”, você me disse que não somos nada sozinhas. E por que somos? Não sei, mas simplesmente vai além. Outra coisa que eu acho que você não saiba, por nunca ter te ouvido falar, é o significado de ego, mas diria que nós vamos além dele. Digo isso pensando na mesa de almoço farta que, para você, sempre cabe mais um. E mais um. E mais um.
E mais vários.
Pensei aqui que eu precisava escrever para você, mas pensando bem eu escrevo para você todos os dias. Só falta nossa casa na praia, mas talvez a praia esteja dentro de nós e de todas as nossas realizações. Chegamos lá! E lá é exatamente onde construímos novas narrativas. Juntas. Nunca estive sozinha.
Trouxe uma placa de Brasília, aquela que a Ministra me deu. E nela está escrito assim: eu sou Luanda Vieira, jornalista, neta de Idalina (a nossa Nina), que segue fazendo muito por todos que passam pelo seu caminho.
O caminho é nosso. Meu, seu e de todo mundo que vem falar de amor.
Quanto amor!
Coisa mais linda esse seu texto, tocou em mim! O fato é que realmente somos quem somos por haverem existido outras mulheres antes de nós e elas, nossas mães e avós abriram os caminhos para chegarmos onde estamos hoje. É sobre agradecer e ser honrada por sermos também parte da construção da nossa ancestralidade.
Amei tanto. Lembrei da minha, que não está mais aqui, mas que me acompanha tanto. Um beijo grande, Lu. E um abraço apertado por todos nós na tua Nina.