“Temos que agir não só contra as forças externas que nos desumanizam, mas também contra os valores opressores que fomos obrigados a internalizar” - Irmã Outsider, de Audre Lorde
When they try to shrink you, expand. Nem precisei abrir o livro “More Than Enough”, de Elaine Welteroth - também conhecida como a minha grande referência no jornalismo de entretenimento -, para conferir a frase que grifei em 2021 que, em tradução livre, diz “quando eles tentarem te diminuir, expanda”, porque eu nunca esqueci dela. Fez muito sentido para a minha vida até ali; e retomou com força depois de ouvir a Oprah, ao vivo, em sua passagem pelo Brasil. Apesar da mesma direção, a minha reflexão mudou de sentido.
A gente muda, né, assim como as circunstâncias. Mas, veja bem, eu estava interpretando a fala de Elaine com uma lente que não era a minha.
Pensei nisso quando a Oprah disse: “eu nunca me senti pequena”. Ouvir aquilo foi como se a comunicadora estivesse me dando permissão de falar em voz alta que EU TAMBÉM NÃO. Eu posso ter me sentindo uma impostora diversas vezes, mas eu nunca tive dúvidas sobre o meu tamanho. Esse discurso nunca foi o meu. Me deram um papel sem, ao menos, eu ter feito o teste para esse personagem. Aos poucos eu fui internalizando como forma de sobrevivência, estratégia mesmo. O problema é que nesse jogo de falar o que eles querem ouvir, a gente acaba perdendo o controle e em algum lugar dentro dos nossos pensamentos, acreditamos na encenação. Aquele conceito confuso de “a vida imita a arte ou a arte imita a vida?”. Assim, eles seguem eliminando os concorrentes de alta performance.
Lembro que na faculdade, quando eu me destacava de um lado, eles me menosprezavam do outro. O objetivo era apagar onde eu conseguia brilhar para que eles pudessem continuar sendo medianos em paz. Cresci sendo o terror dos medianos sem saber, afinal, eu estava ocupada demais sendo excelente. Mas não foi isso que me fez gigante, nasci gigante. Literalmente. Minha mãe sempre enfatiza o meu tamanho quando relembra a data do meu nascimento. Aquela menina cor-de-rosa, que precisou de banho de luz ao nascer, não tinha vindo ao mundo para se encolher.
A fala da Oprah foi como um despertar.
Me libertei da culpa de me perceber gigante.
E a vida andou. Mais uma vez ela andou.
Se você ler os meus textos anteriores, você vai entender o quanto a vida caminha quando a gente reconstrói conceitos. Por aqui tem sido assim. Esse exercício de avaliar com qual lente estamos enxergando o mundo é valioso demais porque é natural que alguém nos empreste o seu olhar em determinados momentos, e vice-versa. Às vezes a gente precisa que as outras pessoas acreditem na nossa narrativa, e vice-versa. Às vezes a nossa realidade está insuportável, e vice-versa. Às vezes é mais fácil acreditar que a grama do vizinho é mais verde, mesmo não gostando daquele tom, do volume ou do corte, e vice-versa. O importante é saber voltar, se voltar fizer sentido.
O importante é saber falar.
E falar sempre faz sentido.
Em “Cartas para minha avó”, Djamila Ribeiro conta que passou boa parte de sua vida tendo dor de garganta, até chegar a um médico que constatou que o seu incômodo vinha do que ela deixava de falar. O conselho foi se perguntar o que precisava ser externalizado toda vez que a dor viesse - e ela nunca mais voltou. Olhar para dentro pode machucar, mas é bonito demais. A gente se acolhe depois de tanto maltratar; entende o que é nosso de verdade e abraça. Depois, o reflexo no espelho passa até a ser gentil porque tudo que ele vê são olhos brilhando com a alma.
Tenho usado o poder da fala para além da análise - e da escrita, claro. Devolver desconfortos tem sido a minha maior vitória; faz parte do compromisso de mostrar o meu tamanho sem medo, porque como escreve Ryane Leão, não devemos carregar culpa por sermos grandes demais, “quem quiser que aprenda a ventar também”.
Que momento lindo, em contínuo "se descobrir" e ser de fato o que você é na essência! ..... Maravilhosa
Que texto maravilhoso Luanda, obrigada por compartilhar <3